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Teoria musical é importante?

Atualizado: 11 de abr.

teoria musical é importante

Essa é uma questão interessante, pois a resposta em geral é negativa. Sendo objetivo, já ouvi sair da boca de muitos músicos alegações de que estudar teoria musical é besteira. O fato das pessoas em geral não se interessarem pelo assunto mesmo se dizendo apaixonadas por música respalda este tipo de afirmação. Eu já não posso afirmar que tenha mudado de ideia em algum tempo, pois desde cedo eu já recebi instruções sobre este conteúdo, mas concordava com a opinião geral por acreditar na argumentação que me apresentavam para justificar a opção por não estudar teoria musical.

Quando comecei a participar de gravações em estúdio é que ter um conhecimento prévio sobre andamentos, estruturas rítmicas e harmônicas passou a fazer diferença em relação aos demais músicos que eu acompanhava. Em determinados momentos era quase impossível chegar a um consenso sobre um arranjo ou construção das partes de uma canção por pura falta da habilidade de comunicação. Já assisti à inúmeras discussões em estúdios onde ambas as partes estavam defendendo exatamente a mesma ideia, mas não conseguiam verbalizar de forma inteligível o que queriam expressar por não dominarem o vocabulário correto. Contudo, havia uma crença dominante neste meio oriunda de declarações feitas por celebridades da música que deixavam claro seu analfabetismo musical. Isso acabou virando mantra em determinados seguimentos. Porém, quando me aprofundei em pesquisa e conheci os bastidores das obras destes personagens, pude constatar que eles sempre estavam acompanhados por músicos ou produtores que faziam o trabalho que eles desdenhavam. Ou seja, mesmo que ficasse bonito alegar ignorância ao público para não parecer muito “intelectualizado” e passar uma imagem de “descolado”, o fato é que sem tal conhecimento no processo de produção dificilmente haveria uma carreira musical viável.

Mas, em um mundo onde a internet fornece todas as informações necessárias e inteligências artificiais substituirão a maioria das ações humanas nos próximos anos em alguns seguimentos, há uma forte ambivalência no ar. Se é tão fácil encontrar conteúdo instrutivo sobre qualquer tema por que não estudar sobre algo que se alega ser uma paixão? Por outro lado, se a tecnologia está aí para substituir nossa inteligência, por que aprender algo novo ou perder tempo tentando entender o que figuras dispostas sobre um pentagrama significam? Diante deste cenário, o que prevalece é a preguiça. A energia que seria direcionada para compreender o assunto é usada para inventar desculpas. Por isso, ao longo de mais de três décadas trabalhando com música, eu só encontrei duas explicações viáveis para uma pessoa que se diz apaixonada por música não querer aprender sobre o tema: preguiça e incapacidade intelectual.

Eu admito que a argumentação contrária à minha defesa da importância do estudo da teoria musical é muito consistente, pois ela é fruto de conhecimento de causa, afinal, como alguém pode perceber valor em algo que desconhece? Diante desta realidade, qualquer tentativa de convencimento se torna estéril. Exceto por uma analogia muito simples. Uma pessoa alega amar poesia, mas costuma ler os poemas em idiomas que ela não domina. Ao defender sua posição com qualquer manobra retórica, a lógica se sobressai, pois não há como se conectar ao sentimento, a estética da obra sem compreender a linguagem utilizada para concebê-la. Assim como um idioma, a música é uma linguagem. Ouvi-la sem compreendê-la é fazer o mesmo que a pessoa que ama poesia usada como exemplo faz.

Mas o que realmente importa nesta equação que tenta definir um valor para o estudo da teoria musical, é o ponto em que estou falando sobre algo pelo qual as pessoas se dizem apaixonadas e não uma matéria de escola como português ou matemática que são obrigatórias nos estudos convencionais mesmo para quem as repudia. O que me fez estudar música, não só a teoria, mas as técnicas de execução em três ou quatro instrumentos, canto e produção musical, foi exatamente a minha paixão pelo tema. Não me parecia razoável tocar instrumentos, ouvir música e não compreender o que a estrutura da obra significava.

Além de racionalmente ser um paradoxo amar música e ignorar seus fundamentos, o grande valor perceptível em estudar teoria musical é o mesmo que compreender matemática, idiomas diferentes, física, praticar esportes etc. Neste ponto entra a neurociência que já provou a importância que a prática literária, por exemplo, teve ao possibilitar que muitos escritores chegassem lúcidos próximos aos seus centenários, livres de Mal de Alzheimer e outras doenças degenerativas. Ao desenvolver habilidades novas, o cérebro é estimulado a criar novas sinapses neurais. Isso ajuda a mantê-lo jovem e em expansão. Mas não é simplesmente por tentar inteligir novos temas que a mente se desenvolve, e sim por aguçar a percepção sobre o objeto de estudo. É como uma pessoa que estuda arquitetura e consegue perceber falhas em projetos, estruturas frágeis, assim como pode visualizar uma obra pronta antes mesmo de começar a desenhar uma planta.

Não escrevi o livro Teoria Musical – Conceitos e Fundamentos porque estava sem ter o que fazer e decidi passar o tempo falando de um assunto qualquer. A concepção desta obra exigiu muito de mim, pois não foi só registrar o que sei sobre o tema, foi preciso “despejar” sobre a mesa todas as informações que estavam dispersas na minha mente jogando luz sobre elas, organizá-las, buscar uma forma de utilizar uma linguagem que fosse acessível ao maior número de pessoas possível, diagramar o texto em um documento word respeitando padrões literários e estéticos, criar uma capa, entre outras tarefas que exigiram habilidades específicas as quais tive que desenvolver uma a uma. Isso só valeu a pena porque o meu propósito é mais forte que a preguiça ou a acomodação. Poder me tornar a pessoa capaz de transmitir este conhecimento não poderia ser considerado algo fútil e descartável. Se a internet em geral apresenta muita confusão para expor o tema, o livro que escrevi está organizado hierarquicamente e explicado com linguagem simples, clara e direta para que a compreensão não seja um obstáculo difícil de transpor.

Para encerrar, é preciso derrubar por terra a ideia de que teoria musical é um bicho de sete cabeças e o conteúdo é tão complexo que estudá-lo só geraria dúvidas e confusão. Longe disso, estamos falando em ciclos de somente 12 notas que se repetem cerca de oito ou nove vezes para abranger todo espectro que a audição humana é capaz de perceber. Há uma estrutura harmônica simples que embasa e orienta o uso de variações, muitas delas comuns, que são usadas nas composições que conhecemos. Os timbres dos instrumentos e vozes, os ritmos de cada estilo entre outras possibilidades são naturalmente assimiláveis na audição sem precisar de muito embasamento técnico. Este conhecimento é plenamente desenvolvido em um mês se o estudante estudar com seriedade por volta de uma hora por dia. Isso é exigir demais para um “apaixonado”?


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